Entre Helenas e Heleys, em um mesmo Carrossel

Se você está para lá da casa dos trinta, assim como eu, certamente vai se lembrar da novelinha mexicana "Carrossel", que fazia um enorme sucesso entre a meninada do final dos anos oitenta e início dos anos noventa. E certamente, já pensou, eu queria ter tido uma Professora Helena...
Helena, a protagonista adulta do folhetim mexicano, era o padrão ideal a ser seguida por qualquer educador... linda, amiga, maternal... amada por todos os alunos, demonstrava enorme paciência e ternura por cada um de seus alunos, até os mais chatos, até quando eles erravam.
E, se você que está lendo, não é um educador, deve estar falando: "isso é ficção". Mas, se o é, deve estar imaginando: "é utopia"... pois, era isso que imaginava até alguns dias atrás, até uma certa Heley nos lembrar que, como educadores, "embarcamos nesse carrossel" todos os dias, sem saber como será o desembarque.
Você, que está todos os dias na sala de aula, assim como eu, não se admira, embora se entristeça muito, que essa heroína fenomenal tenha dado sua vida para salvar a de seus alunos. Isso porque, se você é professor, mas daqueles de verdade, faz isso todos os dias.
Cada dia em sala de aula é um esgotamento físico, mental e emocional, pois moldar a matéria humana nos exige esforços acima dos naturais. Somos mães e pais, psicólogos, sexólogos, terapeutas, recreadores, e, se sobrar tempo, ensinamos português, matemática, história, geografia, inglês, artes, ciências, educação física e também as disciplinas curriculares do Ensino Médio. Tiramos do bolso, na maioria das vezes, o material da atividade diferenciada, planejamos aulas em casa (deixando nossos maridos, esposas e filhos, muitas vezes em segundo plano), e algumas vezes, temos insucesso, pois os alunos não gostam da matéria, ou simplesmente "não estão a fim". Temos que lutar contra o descaso, a indisciplina, a falta de estrutura familiar, as defasagens de aprendizagem. Encaramos alguns (ir)responsáveis nos acusando de perseguir alunos, quando o que pedimos é apenas um pouco de compreensão e respeito. Mas, ainda assim, levantamos todas as segundas-feiras e vamos à luta, sabendo que, por mais um dia o carrossel vai girar, histórias vão se repetir e nós precisamos continuar.
Não me julguem pretensiosa ao comparar o trabalho diário ao sacrifício de Heley. Faço um paralelo para que entendam qual é a motivação que leva um professor a se reinventar, mesmo em um país que não valoriza a educação, e em um estado que não faz reajustes, nem mesmo da inflação,há quase quatro anos. Quando entramos na sala, vemos a oportunidade de salvação. Porque, como diz Augusto Cury, "Professores fascinantes ensinam para a vida." Esperamos, desesperadamente, que nosso sacrifício diário traga à sociedade não apenas profissionais, mais pessoas melhores.
É claro que não somos Helenas... somos Anas, Cláudias, Jeans, Denis, Paulas, Sandras, Rogérios, Janaínas... estamos longe do ideal de educadores perfeitos, mas buscamos desesperadamente ser herois e heroínas e resgatar a vida de alguém... mesmo que seja uma classe, ou um aluno.
E, enquanto existirem escolas, enquanto existirem professores, milhares de loucos, assim como nós, embarcarão nesse carrossel, na esperança de que a terra seja quase o céu.

Feliz Dia do Professor.
Outubro/2017

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