Quando a primeira palavra caiu em mim...

Você já viu estrelas cadentes? Segundo as definições científicas, elas são apenas meteoritos, pedaços de pedras espaciais, sem nenhum brilho, que ao entrarem na atmosfera terrestre sofrem atrito e por isso geram um rastro de luz... A beleza disso é que nesse processo que fatalmente irá destruí-las, as estrelas cadentes fazem um percurso de encantamento, motivando sonhos e esperanças de uma vida melhor...

Palavras cadentes também são assim... Elas vêm sem serem esperadas, entram, iluminam, fazem sonhar... A única diferença é que elas não são destruídas... São reinventadas, recriadas, no coração e na mente de cada um que teve o privilégio de conhece-las...

Todos que amam ler tiveram o primeiro contato com as palavras cadentes... O nosso aconteceu assim...

Ivanilda

A Cartilha Caminho Suave ficou em minha memória e me mostrou o caminho para a Leitura e Escrita. Foram vários livros da série Vaga-Lume entre outros que contribuíram para minha formação leitora e escritora. Meus pais sempre estimularam para os estudos, então desde menina fui tomando o gosto da leitura e da escrita. Gostava de ler e escrever, principalmente aqueles poemas, aquelas poesias, que não fossem muito longas, porém com ricas palavras que contribuíssem para minha vida. Ao escolher, observava rapidamente o título, as palavras, se estavam voltadas para a realidade, sentimento, se despertavam o desejo de mergulhar no significado de cada uma delas, as quais transmitiam grande emoção, grande estímulo para viver com sabedoria.

Ione

Quanto ao meu tempo de ensino fundamental tenho muitas recordações, mas vou citar algumas. Tive muito apoio em minha casa, pois minha mãe só cursou até o segundo ano do fundamental, mas sabia da importância do estudo de seus filhos, então sempre nos incentivou. Tenho vaga lembrança do meu quarto ano, quando ainda morava numa fazenda, no início do ano letivo fiquei surpresa pois tive como professor um homem, me lembro bem dele, era de Rio Claro, seu nome Enéias José Pagotto. Fiquei assustada pois até então só tinha tido professoras, mas foi com ele que tive minha verdadeira afeição pela leitura e escrita, ele nos levava à biblioteca toda semana, e também sempre nos contava histórias mas não lidas, era como hoje ele as declamava com uma sutileza, que tomei gosto, no entanto hoje não consigo começar meu dia sem ler uma história aos meus alunos, utilizo um livro do Pedro Bandeira que cada dia da semana tem uma nova história, foi aí que percebi que meus alunos começaram a querer irem em outras classes dos primeiros anos contar as histórias, foi aí que percebi que este meu trabalho estava dando certo. Sinto-me muito grata pelo o que este professor me fez, a paixão pela leitura e escrita.

Janaína

Minha “iniciação” no mundo das palavras cadentes, encantadas, não foi por meio da escola, com os livros didáticos, ou com a alfabetização... Aconteceu em casa, em uma família humilde, de pais sem escolaridade, mas com a força de minha mãe, que sempre nos motivou a aprender... Lembro-me de que, muito antes de conseguir ler e escrever, adorava livros, tinha um verdadeiro fascínio pelas histórias que meus irmãos bem mais velhos liam para mim... Dom Quixote, Caminhando na chuva (http://resumos.netsaber.com.br/ver_resumo_c_228.html), são algumas histórias que ouvi, sem ainda aprender a ler... Cresci desejando as palavras... Lembro que na pré-escola tentei ler um jornal e chorei muito porque não conseguia entender a palavra “pneu”... Na escola, com a Cartilha “Mundo Mágico”, conheci a Poesia... E me apaixonei por dois poemas, que até hoje tenho decorados: “O Vestido de Laura”, de Cecília Meireles, “A Lagoa”, de Carlos Drummond de Andrade... Nessa época, havia na minha escola uma professora readaptada como bibliotecária, Dona Marlene... Ela arrumou a biblioteca, ficou linda... Sempre promoviam feiras de livros, que custavam bem baratinho, e o primeiro que eu comprei foi “O Soldadinho de Chumbo”... Uma relíquia, que guardei até ficar adolescente de dar para os meus sobrinhos... As feiras de livros, com aqueles livros 3D maravilhosos, me aproximaram da biblioteca... E na 4ª série eu já havia lido todos os livros da biblioteca de minha escola... Minha paixão por ler me acompanhou dessa época até hoje... Com 16 anos, li mais de 60 livros em um ano... Amo Machado de Assis, Manuel Bandeira... Já adulta, descobri Jostein Gaarder e Lion Uris... E não deixei de conhecer os modismos de Nicholas Sparks e Sthefenie Meyer... Ler me fez ser quem eu sou, me ajudou a gostar de escrever... Hoje, quando alguém me diz que não gosta de ler, digo para essa pessoa que não é da leitura que ela não gosta... Ela ainda não teve o mágico encontro com uma palavra cadente que iluminou a sua vida.

Juliana

Dedico um pequeno espaço deste blog para voltar ao meu passado e tentar descrever aqui como foi me apaixonar pelas "LETRAS".

Bom... meu pai é um caminhoneiro que não pode estudar, pois desde cedo teve que trabalhar para comer. Ele e seus três irmãos tinham que ajudar os meus avós na roça, por isso não teve a chance de estudar, afinal naquela época essa oportunidade era para poucos. E desde cedo ele aprendeu na escola da vida a se educar, e conheceu o mundo literalmente. Viajou sua vida toda por essas estradas com seu caminhão, viveu muitas aventuras, boas e ruins, e sobreviveu a todas as dificuldades e preconceitos pela falta de estudos. O incrível, é que mesmo não sabendo ler ele comprava livros, e sempre os trazia de suas viagens para mim, e antes de ser alfabetizada já tinha uma coleção de livros. Ficava horas folheando e imaginando o que diziam aquelas letrinhas e com os desenhos de algumas páginas eu criava a minha história e a contava para o meu pai, que ao final dizia: " Um dia você lerá essas histórias para mim". E, eu não via a hora de realmente poder fazer isso.

Hoje, percebo que o livro é tão mágico, que mesmo sem poder lê-lo eu conseguia lê-lo. Meu pai sempre me incentivou a estudar, pois ele mais do que ninguém sabia a importância dos estudos e como ele faz falta. Então, fui pra escola e assim que comecei a formar as primeiras palavras, sabia que elas estariam ligadas a min

ha vida para sempre. E mesmo tendo uma profissão tão pouco valorizada por muitos nesse país, sei que meu pai se orgulha muito de mim por ter escolhido ser professora, pois ele reconhece muito o valor do ensino. Li todos os livros que ganhei do meu pai, e ele também leu através dos meus olhos. Foram lindas histórias, aventuras, dramas, comédias, mistérios, romances, contos, fábulas e muitos outros... Guardo cada um deles com muito carinho, pois quero compartilhá-los com meu filho, assim como fiz com meu pai.