Professor 2.0

Entre grupos, redes sociais e tecnologias de comunicação antes desconhecidas, o professor 2020, versão 2.0, está comprovando o que sempre disse em sala de aula: nunca podemos parar de aprender.

A Pedagogia histórica e etimologicamente está ligada ao contato. O pedagogo, em sua origem, é aquele que guia as crianças, as conduz por um caminho. O distanciamento social nos obrigou a repensar em estratégias para que esses caminhos fossem trilhados.

A princípio, nos sentimos inseguros e incapazes. Não foi fácil, mas foi necessário reinventar-se.

À distância, descobrimos o valor do trabalho em equipe (pode não parecer, mas na maioria das vezes, o trabalho docente acaba sendo isolado). Nossas salas se expandiram para abrigar nossos pares, os alunos e suas famílias. As aulas foram compartilhadas: quem "doma" a tecnologia, ajuda o companheiro que "engatinha".

Dessa forma aprendemos muito! Não há jeito melhor, há meios diferentes que levam ao objetivo comum de ensinar o amor por aprender. Fomos a resistência, porque, como diz a Bíblia, um cordão de três dobras não se parte com facilidade. E assim, unidos, vimos que interdisciplinaridade, sequência didática, projeto pedagógico, teorias de aprendizagem foram formações que ocorreram "just-in-time", trazendo às nossas práticas, anos de teoria e conhecimento acumulados.

Vivemos o cotidiano das famílias e elas, por sua vez, entraram "de cabeça" na nossa vida! Quantas vezes nossos alunos foram os responsáveis... pais, mães, avós, irmãos, tios, a quem orientamos, acalmamos, compreendemos e, por vezes,  só oferecemos o "ouvido amigo", para um desabafo sobre o ano atípico.



Não lecionou em 2020 quem não gravou um vídeo e, ao fundo, saiu o latido do cachorro, o choro dos filhos, o barulho da panela de pressão... ou, nas aulas síncronas (nome bonito para "ao vivo, pela internet"), não tinha uma criança ou um membro da família,  espiando no seu ombro... ou quem não respondeu uma mensagem de aluno muito fora do seu horário de trabalho. O mundo aprendeu que o professor é mortal... Tem casa, família, limpa a casa e faz almoço... Sim, existe um ser humano atrás do jaleco!

Vivemos de tudo: de ataques pelo "receber sem trabalhar" ao "aplaude um professor". E, como aprendemos a discernir, não nos deprimidos ou vangloriamos por nenhum. A sociedade tem a sua compreensão da docência turvada pelos apelos econômicos e políticos e, independente da filosofia em vigor, aprendemos a reconhecer nosso valor.

Por fim, por mais upgrades e inovações que recebemos, a versão 2.0 do professor ainda tem um defeito incorrigível: não aprendemos a nos distanciar. Fazem falta os abraços, os sorrisos, as conversas e até as broncas. O olho no olho. A tecnologia ameniza a distância, nos permitindo ver os rostos, ouvir as vozes, mas é insuficiente.

Eu, particularmente,  sonho com o dia de voltar para uma sala cheia de rostinhos felizes, de sujar minha roupa de giz, de ouvir os barulhos de vozes e de folhas de cadernos sendo viradas. De viver a rotina escolar, com a sua magia que, só aprende a amar quem nasceu professor.